quinta-feira, 15 de setembro de 2011

“O CAPITALISMO E A ÉTICA EVANGELICAL”

Segundo o economista e sociólogo alemão Max Weber em seu enunciado histórico intitulado: A Ética protestante e o “Espírito” do Capitalismo (Die protestantische Ethik und der ‘Geist’ des Kapitalismus) é defendido pelo autor o estabelecimento de um raciocínio lógico capitalista, que o mesmo denomina “racionalismo”. O autor parte desse pressuposto, após a leitura realizada através da comparação da Alemanha do período com outros países civilizados do planeta em condição de desenvolvimento semelhante, ou seja, com a existência do capitalismo e empresas capitalistas, sendo identificado no capitalismo, uma estrutura social, política e ideológica ímpar, que pode se ditar como a condição ideal para o surgimento do capitalismo moderno, que no seu interior, defende a paixão pelo lucro como demonstração de prosperidade, fé e salvação.

Para Weber, após a reforma de Lutero, surge uma forma de vida de caráter metódico, disciplinado e racional. Da base moral do protestantismo surge não só a valorização religiosa do trabalho e da riqueza, mas também uma forma de vida que submete toda a existência do indivíduo a uma lógica férrea e coerente: uma personalidade sistemática e ordenada. Segundo o artigo sobre “Reforma Protestante” de Pedro Camargo, Parece contraditório, mas a questão econômica foi à razão da reforma protestante, sendo que os seus precursores usando de seus poderes, religiosos, e políticos, propuseram inconscientemente uma alteração na estrutura jurídica, para justificar o novo sistema econômico que nascia o Capitalismo.

Segundo Camargo, este sistema que se utilizou todos meios para se manter até os dias atuais, parece que se transforma com a sociedade, e a mantém refém da economia de mercado, onde o ter é a palavra de ordem, já o ser é fruto de mentes desocupadas e fora da realidade do mundo capitalista. Partindo deste pressuposto, é válido estabelecer um pensamento crítico à axiologia do movimento evangelical contemporâneo, ou seja, sobre os valores que sociabilizam ao processo do Kerigma na Eclésia. De forma simplória, quero problematizar a questão em nosso contexto evangélical, fazendo a seguinte pergunta: Qual tem sido o verdadeiro valor para o evangelicalismo brasileiro?

Será que é o amar a Deus e ao próximo conforme Jesus nos ensinou de forma imperativa? Ou será que é o apego ao materialismo numa espécie de hedonismo desenfreado?

Tenho observado em nossos dias atuais, o quanto a sociedade vem passando pelo processo de mudanças rápidas. Concomitantemente, noto que a igreja não tem conseguido acompanhar essas mudanças sem perder seus princípios e valores de fé pautados na ortodoxia bíblica. Deveríamos a exemplo dos primeiros cristãos, mantermo-nos firmes e fiéis à doutrina dos apóstolos. Entretanto, o que temos são novas doutrinas, novos movimentos, novas igrejas e uma nova ordem para todas as coisas. As pessoas são vistas como cifras numéricas e valorizadas segundo o que elas possuem. O homem não tem tido seu valor pelo que é. Muitos de nossos líderes cristãos, tem se preocupado com a evangelização numa perspectiva de crescimento quantitativo para o aumento na arrecadação orçamentária de sua comunidade eclesial. Entendo que não há como desassociar a igreja institucional da realidade capitalista, pois essa é uma estrada sem volta. Ainda que a igreja quanto instituição declare não ter fins lucrativos, a mesma precisa do capital para sobreviver. Tudo acaba girando em torno do lucro. Entretanto, não podemos fazer disso uma justificativa para comercializarmos vidas que buscam na igreja refrigério para sua alma, ensinando-lhes que quem der mais será abençoado, pois isso solapa a boa fé das pessoas trazendo-lhes desconforto espiritual e emocional. Podemos sim de forma bíblica, ensiná-las que a generosidade e liberalidade, são manifestações de nossa gratidão a Deus porquanto tudo que tem feito. Não investimos na obra de Deus para sermos ricos, e sim por que já somos ricos pela graça do Eterno! (Grifo do autor).

Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro. (Fp.1:21)